Foragido do presidio de Patrocínio aparece em Matéria do Fantástico



Andarilhos que largaram tudo são tema de exposição feita por policial
Fantástico pegou a estrada e descobriu histórias de tragédias familiares e desilusões amorosas. Fotos de andarilhos estão em exposição pelo país.

Eles deixaram tudo para trás: casa, família, emprego e partiram numa viagem sem destino e sem data para terminar. Um policial rodoviário documentou as imagens e histórias desses andarilhos, gente que vaga pelos acostamentos, numa caminhada sem fim.
“Quando eu comecei a andar? Ah, faz tempo! Faz mais ou menos uns quarenta e poucos anos já”, diz um andarilho.

“Você vai andando, você vai acostumando, e uma hora você vai e não volta mais”, resume outro andarilho.
“Se eu sou feliz? Bom, do meu jeito eu sou feliz. Eu estou feliz”, conta um andarilho.
Histórias de vida às margens das estradas chamaram a atenção de um policial rodoviário federal. Durante dois anos, ele fotografou esses homens que passam a vida assim, caminhando. E agora reuniu as fotos em uma exposição que percorre o país.
“A BR onde eu trabalho é rota para esses andarilhos. Então, desde sempre me acostumei a conversar com eles, até porque eles passam pelo posto, pedem água, pedem informações”, conta o inspetor da PRF Renato Lucena.
Para conhecer essas histórias o Fantástico também pegou a estrada. Rodou cinco mil quilômetros por rodovias federais.

“Todo mundo acha que você ou é bêbado ou tá drogado”, diz o aposentado Elias Evaristo da Silva.
Elias Evaristo da Silva é funcionário público aposentado do estado do Paraná. Recebe R$ 4 mil por mês. Há três anos saiu de casa por causa de uma grande decepção no casamento.
“A gente pensa na família, pensa no neto, no caso o meu. Pensa nos filhos, pensa na mãe, nas irmãs. Você pensa na vida, no que você fez até agora. Você não está fazendo nada, não está produzindo nada”, afirma Elias Evaristo.

A maioria segue sozinha. Alguns fazem artesanatos ou vendem latas de alumínio para ganhar algum dinheiro. Mas todos carregam comida, roupa e lembranças.
“Essas são amigas de sobrevivência. Palominha, carioca, aqui do Rio de Janeiro. Penha, carioca, do Rio de Janeiro. Rosângela, mineira, aqui de Minas Gerais. Silmara, paulista”, diz Gaúcho, mostrando as assinaturas no boné.

O paranaense, conhecido como Gaúcho, perdeu as contas de quantos quilômetros percorreu.
“Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais”, conta Gaúcho.

A maioria dos andarilhos, segundo a polícia, não têm documentos, como o homem mostrado no vídeo. Ele conta que está na estrada há dez anos.
“Tenho a maior saudade do meu filho, sabe? Saudade da minha esposa”, afirma o homem.
Diz também que ficou sem rumo depois de perder a mulher e o filho de três anos em um assalto à casa dele, na capital paulista.
“É maldade demais, é muita crueldade você ter coragem de tirar a vida de uma criança de três anos”, conta o homem.

Difícil não acreditar na dor desse homem. Mas a polícia desconfiou. E descobriu que era tudo invenção.
Josiel Gabriel, na verdade, é José Ramos Messias, foragido do presídio de Patrocínio, em Minas, onde cumpre pena por roubo. Ele voltou pra cadeia.

“Apesar da maioria deles serem pessoas de bem, com certeza alguns bandidos, alguns meliantes se utilizam de se passar por andarilhos para continuarem foragidos”, explica Renato Lucena.
De tanto andar, a pele vai sendo castigada pelo sol. E os pés também. Mesmo cansados, têm que vencer a dor e a solidão. Seguir em frente, apesar do perigo. E não é só. Ainda é preciso disposição para encarar chuva e habilidade para se esconder dela.
“A gente que anda assim às vezes não tem nada. Não tem comida, não tem dinheiro, não tem nada e, de repente, não sei o que acontece que aparece uma nota, um dinheiro. Alguém para um carro, dá uma comida, ajuda”, conta um andarilho.

No trecho da BR-040 mostrado no vídeo, a ajuda vem das mãos de um taxista. Todo dia, ele distribui pão e água.

Roberto Santana, taxista: Já tem mais de dois anos que eu venho fazendo isso na rodovia.
Fantástico: Isso faz o senhor feliz?

Roberto Santana: Muito feliz de estar ajudando o próximo.
“O andarilho, ele se difere bastante do morador de rua, porque ele não mendiga. Ele não pede nada,” explica Lucena, inspetor da PRF.

Só quando precisa de abrigo e um pouco de segurança.
Elias Evaristo da Silva: Eu queria pedir para o senhor, por favor, para passar a noite no posto. Pode?
Funcionário do posto: Pode.
Esse é o Elias, aquele servidor público aposentado de quem falamos no início da matéria. São 8 horas da noite e o seu Elias acabou de preparar a cama onde ele vai dormir: um plástico e uma coberta bem fina.
Fantástico: Hoje, esse aqui é seu quarto?
Elias Evaristo da Silva: É. Aqui é meu quarto.
Fantástico: O senhor já tem casa, já teve carro de luxo, já teve uma pequena empresa. É funcionário aposentado do estado do Paraná. Quando o senhor olha pra situação em que está hoje, o que passa pela cabeça?

Elias Evaristo da Silva: Onde foi que eu errei. Onde foi que eu errei no casamento, na minha vida para acontecer isso comigo. Porque eu tinha uma estrutura de vida e hoje não tenho nada.
“A maioria tem histórias de perdas e tragédias familiares. Mas é comum você perceber entre eles desilusões amorosas,” diz inspetor Lucena.
Ver a foto do neto que nasceu fez o Elias decidir voltar para casa.
Fantástico: Vai retomar a vida?

Elias Evaristo da Silva: Vou, se Deus quiser.
Fantástico: Vai conseguir deixar a estrada para trás?
Elias Evaristo da Silva: Vou nela até lá.
São tantos e tão inusitados os personagens dessas estradas que o policial fotógrafo quer continuar esse trabalho.

“Não vão parar de passar pessoas pelas estradas. O que me chamou mais atenção nessa vida de andarilho é o desprendimento que eles têm com as coisas materiais. Eles vivem em um mundo diferente do nosso. Me fez refletir sobre minha vida, sobre o que eu tenho, sobre minhas prioridades e com certeza me tornou uma pessoa melhor”, afirma Renato Lucena.

FONTE: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/01/andarilhos-que-largaram-tudo-sao-tema-de-exposicao-feita-por-policial.html

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